O impacto da urbanização desordenada sobre áreas produtivas

Para o empresário Aldo Vendramin, a urbanização desordenada tem causado efeitos preocupantes sobre áreas produtivas em todo o território brasileiro. A expansão descontrolada das cidades, muitas vezes sem planejamento territorial adequado, tem levado à ocupação de zonas rurais férteis, comprometendo a segurança alimentar, os recursos naturais e o equilíbrio socioeconômico entre campo e cidade. O avanço urbano sobre áreas agrícolas representa uma ameaça silenciosa, mas estrutural, à sustentabilidade do agronegócio.
A perda de terras férteis e a redução da capacidade produtiva com a urbanização desordenada
A expansão das áreas urbanas em direção às periferias tem resultado na ocupação de terras tradicionalmente dedicadas à produção agrícola e pecuária. De acordo com Aldo Vendramin, esse fenômeno reduz a disponibilidade de solo arável, principalmente em regiões de alta densidade populacional e proximidade com polos consumidores. A consequência direta é a diminuição da capacidade de abastecimento local e o aumento da dependência de alimentos produzidos em regiões mais distantes, elevando custos e emissões de transporte.
Além disso, a impermeabilização do solo, provocada pela substituição da cobertura vegetal por asfalto e concreto, altera o microclima regional, afeta o ciclo hidrológico e reduz o potencial de produção nas áreas remanescentes.

Pressão imobiliária e especulação nas zonas rurais
Com a valorização de terras próximas às cidades, muitas propriedades rurais são pressionadas a vender ou parcelar seus terrenos para fins residenciais ou comerciais. Conforme aponta Aldo Vendramin, essa pressão imobiliária desestimula a permanência dos agricultores no campo e compromete a continuidade da atividade rural em regiões estratégicas. O resultado é a fragmentação da paisagem agrícola e a transformação de áreas produtivas em loteamentos urbanos, muitas vezes sem infraestrutura básica.
A especulação também dificulta o acesso à terra para novos produtores e iniciativas de agricultura urbana ou periurbana. Sem políticas públicas que contenham esse avanço desordenado, o uso da terra deixa de seguir critérios técnicos e passa a obedecer a interesses imediatistas, gerando desequilíbrios sociais e ambientais.
Impactos ambientais e desafios para o saneamento
A urbanização sem planejamento compromete a qualidade ambiental das áreas vizinhas à produção agrícola. Frisa Aldo Vendramin que a ausência de redes de saneamento, drenagem e coleta de resíduos em ocupações irregulares contamina o solo e os cursos d’água, prejudicando diretamente a atividade agropecuária. As áreas de proteção permanente (APPs) e as zonas de recarga hídrica também são frequentemente invadidas, aumentando os riscos de erosão, assoreamento e escassez de água.
Outro efeito grave é a proximidade entre usos incompatíveis do solo, como moradias e lavouras que utilizam insumos químicos, gerando conflitos sanitários, legais e sociais. Essa convivência forçada compromete a imagem do produtor e limita sua atuação, mesmo quando ele opera de forma regular.
Segurança alimentar e abastecimento urbano em risco
A ocupação desordenada das áreas produtivas também ameaça a segurança alimentar nas cidades. Segundo Aldo Vendramin, quanto mais distante estiver a origem dos alimentos, maior será o custo de produção, transporte e armazenamento. Isso se reflete nos preços pagos pelo consumidor e na disponibilidade de alimentos frescos e acessíveis, especialmente nas regiões metropolitanas.
Preservar o cinturão verde ao redor dos centros urbanos é uma medida estratégica para garantir o abastecimento contínuo e equilibrado. A agricultura periurbana desempenha papel essencial na produção de hortaliças, frutas, ovos e leite — alimentos que demandam rotas curtas e logística ágil para manter a qualidade.
Caminhos para integrar urbanização e preservação produtiva
O combate à urbanização desordenada exige planejamento territorial, políticas públicas eficazes e participação da sociedade. Conforme ressalta Aldo Vendramin, instrumentos como o zoneamento ecológico-econômico, o plano diretor municipal e os mecanismos de pagamento por serviços ambientais podem ajudar a equilibrar o crescimento urbano com a preservação das áreas produtivas.
É fundamental que os municípios reconheçam a importância estratégica do setor agrícola para seu desenvolvimento e criem zonas de amortecimento, corredores verdes e áreas de uso misto que respeitem a vocação produtiva do solo. Incentivar a permanência do produtor no campo, por meio de crédito, assistência técnica e regularização fundiária, também faz parte dessa estratégia.
Um futuro urbano mais equilibrado e sustentável
A convivência entre cidade e campo não precisa ser conflituosa. Com planejamento, diálogo e visão de longo prazo, é possível construir territórios integrados, onde a urbanização respeite os limites ambientais e produtivos. A preservação das áreas agrícolas próximas aos centros urbanos não é apenas uma questão de defesa do agronegócio, mas de saúde pública, qualidade de vida e segurança alimentar.
Garantir que as cidades cresçam com inteligência é um passo essencial para proteger o futuro do país — e a produção de alimentos é uma das bases desse futuro.
Autor: Denis Nikiforov